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  • Tathy Agnellino

Como é viajar para Itália falando italiano

Falar italiano fará sua viagem ser uma experiência única!


Gostaria de conhecer uma metáfora ou uma porcentagem exata para que dissesse o quão diferente vai ser viajar para Itália falando italiano.


Mas, na verdade, o que posso te mostrar é minha percepção de como foi viajar falando italiano com uma companheira de viagem que não sabia o idioma.


Mas primeiro teremos que voltar um pouco para você me conhecer melhor. Me chamo Tathyana Agnellino e faço parte da equipe Silvano Formentin.


Quando fiz 15 anos minha mãe queria que eu fizesse um curso de inglês, “todo mundo precisa falar inglês” ela dizia.


Mas, além de não ter prazer em aprender o idioma, eu ficava em recuperação todo trimestre no colégio. Me neguei prontamente em fazer o curso, assim ela me deu como opção escolher outro idioma.


A escolha do italiano veio naturalmente, dada pela descendência, pela sonoridade, por toda história e pelo desejo de conhecer a Itália.

Em 2007 estava inscrita em um curso tradicional de italiano e aprendendo as várias regras de gramática que o curso me passava, e parecia que eu nunca gravava.


Mas durante o curso sempre me destaquei pela pronúncia e leitura, muito praticadas nas horas vagas, mas tinha uma certa trava na hora de formar frases e me comunicar naturalmente.


Quando estava no último ano do colégio e também do curso com seus grossos livros, uma italiana foi recebida como intercambista em meu colégio e acredito que isso fez uma grande diferença em todo aprendizado que tive.


Era uma troca contínua de aprendizado, cada uma aprendendo e ensinando ativamente. Mas muitas das minhas dúvidas de gramática, ela não sabia muito bem como responder, ela sabia falar na prática, não a teoria gramatical.

Absorvi todo conhecimento que consegui, anotando as dicas, repetindo tudo que ela falava e aprendendo gradualmente todas as normas culturais que ela tinha, assim como as críticas do que era feito da culinária italiana no Brasil.


Segundo ela nossa pizza não tinha nada a ver com a italiana e ela sempre me perguntava como os brasileiros fazem as refeições no mesmo prato, sem a separação tradicional italiana.


Depois da experiência de ter praticamente uma professora italiana particular e me formar em italiano, em 2011 fui convidada por uma amiga da minha mãe, Míriam, para ser sua companheira e principalmente guia/tradutora em uma viagem para Itália.


Muito diferente do ambiente protegido da sala de aula, na Itália eu precisava me comunicar por mim e pela minha companheira.

Eu senti uma certa responsabilidade de ter todas as informações que pudessem nos ajudar em nossa jornada e para isso tinha que me comunicar em italiano. Entre os itens que levei para viagem estava um pequeno guia de italiano que montei com lições que achava necessárias, mas nunca o abri.

Não posso dizer que me sentia totalmente segura, houve alguns erros de comunicação ou em alguns momentos eu falava português sem perceber e os italianos apenas ficavam me olhando, me dando a chance de falar de forma que eles entendessem.


Mas acredito que isso seja algo normal, sempre queremos ser perfeitos e sem perceber limitamos nossas vivências pelo medo de errar.

Conhecemos Milão, Verona, Veneza, Florença e Roma, indo de trem de uma cidade para outra em uma viagem de 15 dias.




Não tenho dúvida que a experiência de viagem dela também foi maravilhosa, mas nossas lembranças são diferentes em alguns pontos.


Ela sempre se mostrou muito decidida a se comunicar e tentar tomar decisões sozinha, mas em Florença escolheu penne all’arrabbiata confiando na foto do cardápio e isso se mostrou uma péssima escolha, já que o mesmo é um prato bem apimentado, não agradando seu paladar.


Certos momentos ela tinha sua pergunta na ponta da língua e quando o garçom respondia sua dúvida, ela escutava atentamente buscando palavras que conhecia. Após a explicação ela me olhava e eu traduzia para ver se ela entendeu corretamente.


Visitamos os mesmos locais juntas, mas minhas lembranças tem um toque italiano de certo modo mais profundo do que as dela. Com certeza a responsabilidade de ficar como guia me trouxe uma certa tensão, mas depois que deixei o medo de errar e a vergonha de lado, tudo foi fluindo.


Tenho certeza que as lembranças que a Míriam tem da viagem também são maravilhosas.

Ela conheceu os mesmos locais que eu e teve experiências similares, mas acredito que o fato de não falar o idioma lhe trouxe uma certa limitação e dependência da minha presença.

Seus passeios sozinha eram curtos, seu café da manhã era silencioso quando eu não estava, quando voltávamos para o hotel ela olhava algumas palavras no dicionário ou no guia de viagens para entender algo específico e quando alguém fazia alguma pergunta, ela me olhava, pedindo uma ajuda silenciosa.

Eu entendia o que estava escrito no cardápio dos restaurantes, assim pedindo só o que me agradaria, escutava conversas alheias pela rua, pedia informações e conseguia chegar onde desejava, lia mapas e placas informativas em monumentos, conversava com nossos atendentes e passava as informações para Míriam.


Acredito que este sentimento de estar integrado a algum lugar ou cultura é algo que não tem preço.


Uma das lembranças que sempre levarei comigo foi quando estávamos em um hotel em Roma; fui pedir a senha do wi-fi na recepção e conversei com o senhor que acredito ser o dono.


Ficamos pelo menos dez minutos conversando e eu simplesmente falava em italiano, sem ficar traduzindo para o português e fazendo pausas.

Quando ele perguntou de onde eu era e quando respondi ser brasileira, ele achou que eu estava morando na Itália há algum tempo, elogiando meu italiano e ficando impressionado aprendermos italiano no Brasil.


Os italianos possuem um grande apego a sua cultura, assim costumam ser mais fechados para se comunicar em outro idioma.


Além das diferenças básicas de comunicação, ainda existem algumas diferenças culturais que saber o idioma ajuda muito a serem transpostas. Conhecemos vários restaurantes, mas me lembro de apenas um, em Roma, que tinha opção de cardápio em inglês, o que para mim também não ajudaria em nada.


Enfim, os restaurantes tradicionais italianos não possuem cardápios em outros idiomas, assim como mapas e os próprios italianos costumam não falar outro idioma, fechando-se na hora de passar informações para estrangeiros.


Lembro quando fui atendida em uma loja em Roma e sem perceber falei português, o atendente ficou parado como se eu não tivesse falado nada. Me dei conta do deslize e falei novamente em italiano, ele mudou completamente e foi muito prestativo ao me atender.


Não são todos os italianos que são assim, muitos foram gentis e prestativos para ajudar.


No Brasil estamos acostumados a ter essa preocupação para o turista entender e possa ser bem atendido em sua visita ao nosso país, mas neste ponto há uma diferença cultural entre Brasil e Itália que é bom estarmos cientes antes de partir para o país da bota.


Falar o idioma fez com que eu tivesse uma experiência muito diferente na Itália.


Não posso dizer que me senti totalmente integrada à cultura italiana e todas suas diferenças culturais, ainda tinha muito para aprender e me desenvolver.


Nove anos após conhecer a Itália, conheci uma forma diferente de aprender o idioma com o Silvano, de forma mais ativa e diária. Nestes meses percebo o idioma ainda mais presente em meus pensamentos e cada vez mais me sinto preparada para a próxima viagem.


Ainda não tenho uma porcentagem de quão melhor pode ser conhecer a Itália falando italiano, mas se me permite uma metáfora, imagine-se com uma bolha ao seu redor. Você pode ver tudo que acontece, mas a bolha limita sua comunicação.


Cada palavra ou expressão que você aprende em italiano faz um pequeno furo na bolha e cada vez mais ela vai desaparecendo e você vai ficando livre, se integrando ao ambiente.


Até chegar o momento que sua bolha vai se dissipar completamente e você poderá andar livremente como se fosse um verdadeiro italiano.


Arrivederci!  

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