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  • Silvano Formentin

Mistérios da Itália: 3 contos de mulheres romanas que você talvez não conheça

Ouvimos muito sobre os pontos turísticos, mas nesse artigo quero te contar outro lado de Roma


A capital italiana é um dos destinos mais desejados do mundo, e um sonho frequente de muitos brasileiros. Seja por sua gastronomia, cultura, vinhos ou monumentos históricos, Roma atrai milhares de pessoas todos os anos, e mesmo quem já a conhece, deseja voltar.

Difundida mundialmente, as fotos e vídeos de seus monumentos históricos e pontos turísticos são facilmente acessados de qualquer lugar via internet. Hoje em dia, o que não é mais novidade, é possível "caminhar" pelas ruas através do Google maps.


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Porém, mesmo sendo uma cidade do mundo, existem algumas histórias e contos locais que não são abordadas pelos guias turísticos, ficando praticamente restritas aos nativos e quem fala italiano. Mas não se preocupe, nesse texto vou compartilhar três contos de mulheres históricas da capital italiana. Tudo pronto? Então vamos lá.


IL FANTASMA DELLA SIGNORA OLIMPIA


A Donna Olimpia Maidalchini, que possuía o título honorífico de Princesa de San Martino, era uma das mulheres mais poderosas e temida de Roma.

Conhecida como autoritária, tirana e oportunista, Donna Olimpia era obcecada pelo poder, e soube utilizar muito bem sua influência durante sua vida.


Quando jovem, foi enviada para um monastério por seu pai. No entanto, Olimpia acusou o líder do local de tentar seduzi-la. Em sua volta para Roma, casou com um concidadão rico, do qual ficou viúva pouco tempo depois.


Imagem de Dona Olimpia Maidalchini

Seu segundo casamento, foi com um nobre 30 trinta anos mais velho do que ela, Pamphilio Pamphilj, cuja família se instalara em Roma havia um século. Na nova família, Olimpia fez amizade com o seu cunhado, o cardeal Giambattista Pamphilj.

Quando o Papa Urbano VIII morreu em 1644, o cardeal Pamphilj, cunhado de Olimpia, foi eleito papa com o nome de Inocêncio X.


Retrato do Papa Inocencio por Diego Velazquez

Olimpia então ficou viúva pela segunda vez e tornou-se conselheira do Papa, o que lhe trouxe a crítica dos italianos e dos protestantes franceses. Dizem que Inocêncio X nunca tomou uma decisão nem nomeou ninguém sem ter consultado Olimpia.


O Papa Inocêncio X morre em janeiro de 1655 e Olimpia é banida pelo novo papa, Alexandre VII, logo nos primeiros dias do pontificado. Dois anos depois da morte do religioso, Donna Olimpia, com medo do sucessor lhe tirar suas riquezas, fugiu com elas em uma carruagem em uma noite chuvosa, mas sofre um acidente e acaba morrendo em 1657, nas águas do Rio Tivere.


Segundo a lenda, Olimpia virou um fantasma e para vê-la é preciso esperar até uma noite feia e chuvosa de outono ou inverno, quando a mulher aparece na mesma carruagem com todas as suas posses pegando fogo. Dizem que a carruagem faz o trajeto da Piazza Navona até a Ponte Sisto, onde cai nas águas do Rio Tivere (Tibre).




LE MANI DI CONSTANZA DE CUPIS


Outra mulher nobre do século 17, Constanza era conhecida pela beleza das suas mãos delicadas, frágeis e pequenas. Eram tão lindas que inclusive viraram molde para reproduções feitas em gesso por um artista romano.




Depois que as esculturas foram concluídas, elas atraíram pessoas de todo país. Eram comuns excursões até o ateliê do artista para conhecer as mãos, tocá-las ou só admirá-las. Com tanta beleza e sucesso, Constanza ficou muito famosa em toda Itália.


Um dia, um padre contou a Costanza que tive um sonho onde alguém cortava suas mãos para guardá-las. Constanza ficou muito assustada com o aviso do padre, e se trancou em casa, no Palazzo Tuccimei, na via Santa Maria dell'Anima, bem no centro de Roma.


Foto do Palazzo Tuccimei

No entanto, após anos de reclusão, Constanza cortou suas mãos enquanto cozinhava, e procurou um médico, que disse que a única solução era amputá-las. Com medo de piorar sua saúde, Constanza deixou amputarem suas mãos, confirmando o sonho do religioso. Em pouco tempo, a má-cicatrização gerou uma grande infecção que acabou matando Costanza.


Por isso, os romanos contam que quando a luz da lua bate nas janelas do Palazzo Tuccimei, as que ficam em frente a Piazza Navona, é possível ver as pálidas mãos de Constanza contra o vidro.


O conto de Constanza de Cupis é amplamente conhecido em Roma, sendo inclusive tema de diversos blogs locais. Vou deixar três blogs com esta história em italiano, para você ir treinando sua leitura nessa língua maravilhosa.



BEATRICE CENCI


Deixei o mais famoso dos contos romanos para o final.

Desde pequena, Beatrice Cenci, que era de uma família nobre, sofria com a violência e com os abusos de seu pai, Conde Francesco Cenci, um homem cruel e problemático.


Após anos de maus tratos, inclusive estupros, a garota organizou um plano para matar seu pai, e contou com a ajuda da sua madrasta Lucrezia Petroni, o irmão Bernardo Cenci e o amante Giacomo.


No dia 9 de setembro de 1589, Francesco foi repetidamente golpeado na cabeça e depois atirado de uma janela para simular um acidente. No entanto, a polícia pontifícia não acreditou e formalizou uma acusação contra a mãe e os três filhos.


O processo todo foi uma farsa: as circunstâncias atenuantes - como o fato de o conde ser reconhecidamente um homem violento e agressivo - foram ignoradas e os empregados de Francesco testemunharam que ele era um homem com ares de santidade. A população romana, porém, apoiou Beatrice e sua família quando foram descobertos.


Mesmo assim, seu julgamento teve uma publicidade incomum e terminou com a condenação dos assassinos. O Papa Clemente VIII, que ficou conhecido por legalizar o café em Roma - até então era considerada uma bebida otomana, muçulmana e anticristã -, mandou cortar a cabeça de todos os envolvidos.



Beatrice foi executada um ano depois do crime, com apenas 22 anos. Sua execução aconteceu em um patíbulo (aquela estrutura de madeira própria para execução, coloquei uma foto abaixo) armado na Piazza Ponte S.Angelo.



desenho retratando a cabeca de Beatrice cortada

A história de Beatrice foi imortalizada pelo escritor francês Marie Henri Beyle, mais conhecido como Stendhal (1783-1842) e no quadro clássico do pintor italiano Michelangelo Merisi, mais conhecido por Caravaggio (1571-1610), e por muitos poemas e tragédias posteriores. Também virou filme do diretor Riccardo Freda, que você pode assistir (em italiano, é claro) no YouTube.



De acordo com a lenda, o fantasma decapitado da jovem aparece todos os anos no dia 11 de setembro, quando foi morta, na Ponte San'Angelo. Com um andar melancólico, um vestido azul turquesa, uma manta prata nas costas e sua cabeça nas mãos, a jovem caminha sem rumo pela noite...


Retrato de Beatrice Cenci

Chegamos ao fim destes três contos envolvendo mulheres romanas, como um jeito novo de turistar na Itália e, lógico, treinar seu italiano.


O que você achou dessas histórias? Lembre-se de deixar seu comentário, é muito importante saber se o que escrevo tem valor para você.


Arrivederci!

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